Todos os seres têm uma metade criadora Kamé e outra metade criadora Kaiurukré. Kamé e Kaiurukré têm poderes diferentes. O sol pertence à metade Kamé, que foi o primeiro a sair de dentro da terra após o dilúvio. Por isso, os Kamé trabalhavam durante o dia, para fazer os animais que pertencem ao dia. A lua pertence à metade Kaiurukré, que trabalhava à noite.
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Contam que os Kamé criaram o ming, a onça... Ah, então, os Kaiurukré começaram a fazer bicho também! Mas ainda faltavam os dentes, língua e unhas quando começou a amanhecer... O que era muito perigoso... porque durante o dia os Kaiurukré não têm poderes. Colocaram, então, uma varinha fina e comprida na boca do bicho, que só conseguia comer formigas. Assim o ioty, o tamanduá, nasceu.
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Um dia, as metades Kaingang decidiram casar suas partes! Moço Kaiurukré casaria com moça Kamé e moça kaiurukré casaria com moço Kamé. Nesse tempo, o povo Kaingang já tinha muitas sabedorias, mas faltava uma sabedoria alegre... Eles ainda não sabiam cantar, nem dançar, nem fazer música... Então, o casamento entre os kamé e os Kaiurukré foi sem festa. Mas isso não podia ficar assim...
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Por isso, naquele mesmo dia, o chefe da aldeia Kaiurukré partiu para floresta. Andou por muito tempo até chegar a um lugar que nunca havia estado antes: era uma pequena roça com o chão batido, como lá na praça da aldeia, e só tinha algumas árvores velhas e galhos quebrados espalhados pelo chão... Um mistério!
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Kaiurukré não estava entendendo nada quando começou a ouvir cantos e músicas, uma mais bonita que a outra! De repente, os galhos que estavam no chão começaram a se balançar e a pular sozinhos, balançar e pular, balançar e pular... Estavam dançando!
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Antes que Kaiurukré pudesse entender o que estava lhe acontecendo, eles os galhos o arrastaram para a roda. Kaiurukré ficou dançando muito tempo até cair no chão de cansaço... Kaiurukré pegou alguns dos galhos e voltou para a aldeia. Reuniu todo seu pessoal, colocou os galhos na posição, mas que decepção! Nada de música, nada de canto! A aldeia toda riu dele. Kaiurukré voltou para aquele lugar misterioso da floresta. Recolocou os galhos que havia pegado no lugar e se escondeu bem longe. Depois de muito tempo, começou a ouvir aqueles cantos e aquelas músicas, e viu, de novo, os galhos dançando! Em silêncio, seguiu andando na direção da música, que ia ficando cada vez mais alta, cada vez mais alta, cada vez mais alta...
Antes que Kaiurukré pudesse entender o que estava lhe acontecendo, eles os galhos o arrastaram para a roda. Kaiurukré ficou dançando muito tempo até cair no chão de cansaço... Kaiurukré pegou alguns dos galhos e voltou para a aldeia. Reuniu todo seu pessoal, colocou os galhos na posição, mas que decepção! Nada de música, nada de canto! A aldeia toda riu dele. Kaiurukré voltou para aquele lugar misterioso da floresta. Recolocou os galhos que havia pegado no lugar e se escondeu bem longe. Depois de muito tempo, começou a ouvir aqueles cantos e aquelas músicas, e viu, de novo, os galhos dançando! Em silêncio, seguiu andando na direção da música, que ia ficando cada vez mais alta, cada vez mais alta, cada vez mais alta...
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Até que chegou numa pequena montanha, mas não era montanha! Era um formigueiro enorme e sobre ele estava o tamanduá-mirim, dançando e cantando! Com uma das patas, tocava um chocalho, e com a outra segurava uma flauta.
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Quando o tamanduá parou de cantar e dançar e começou a cavoucar o formigueiro para comer, descobriu o esconderijo de Kaiurukré! Kaiurukré quis matar o tamanduá, mas percebeu que ele era o dono da dança e da música.
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O tamanduá ensinou a Kaiurukré todas as músicas, cantos e danças! Depois, pegou o bastão de Kaiurukré, dançou e disse:
-O filho que sua mulher espera será um homem. Se alguém de seu povo me entregar um bastão e com ele eu dançar, o filho desse alguém será um homem. Quando eu largar o bastão e não dançar, será mulher.
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O chefe Kaiurukré voltou para aldeia e contou para todo o povo Kaingang tudo o que havia aprendido com o tamanduá, bicho velho e sábio, que também sabe muitas outras sabedorias... Contam os antigos, que foi assim que o povo Kaingang conheceu os cantos, as danças e a música!
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*Fonte: Contos da América do Sul. Coleção Lendas e Contos. São Paulo: Paulus; 1995. Versão: Roda de Histórias Indígenas
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